Abrindo mão da ética e do socioambiental …
23/01/2018
Maria Cecília Coutinho de Arruda
Começamos um novo ciclo. Sem querer, deixamos o nosso espírito de exame do final do ano passado, e entramos com os propósitos de um ano melhor…
Entre muitas ideias que circulam nos meios de comunicação, estamos ouvindo: o lixo está acumulado … as pessoas estão fazendo de conta que não enxergam … e daí por diante.
Então, a ética não se restringe só ao governo – grande responsável por difundir valores e princípios de cidadania – ou às empresas. Diz respeito a cada pessoa, em qualquer circunstância de sua vida.
Há pouco, um profissional entrevistado num programa de televisão dizia algo muito simples ao telespectador: quando for comprar seus ovos, procure a embalagem de papelão. Não achando, a de plástico. Evite a de isopor. E explicável, em termos bem simples, o que é um produto biodegradável.
A quem ele buscava atingir? A todos nós, cidadãos consumidores, fornecedores e varejistas. Queria nos informar – mais uma vez, porque aprendemos e apreendemos com a repetição – e alertar – também mais uma vez – a comunidade empresarial, sobre os riscos do mau uso do conceito de ética e da responsabilidade socioambiental.
Por que é preciso tanta repetição? Não é tão complexo assim …
De diversas formas a ética e a responsabilidade socioambiental, individualmente e em termos empresariais vêm sendo usadas ou interpretadas erroneamente. O que poderia ser capitalizado para fortalecer os valores e a imagem da sociedade e das organizações, pode se tornar objeto de oportunismo e de lucro fácil, provocando perdas incomensuráveis no longo prazo. Vemos riscos na distorção ou má fé no uso da ética e de algumas práticas ditas de responsabilidade socioambiental.
A ética vale a pena
Acreditando nisso, muitas empresas brasileiras vêm criando sistemas de valores e implementando códigos de ética e programas de responsabilidade socioambiental para seus colaboradores.
Recuperar a imagem é um processo longo e demanda um investimento incalculável. O caminho fica aberto para os concorrentes que primam por condutas éticas e socialmente responsáveis.
A consistência entre o que é falado e vivido, entre o que é solicitado e o que é oferecido, a coerência, enfim, é o que move as pessoas a lutarem por melhores padrões éticos e socioambientais de atuação.
A ética e a responsabilidade socioambiental se traduzem em sobrevivência das empresas e da sociedade no longo prazo.
Os valores individuais e da sociedade devem ser preservados. Nas empresas, eles não podem ser sufocados pelas metas de produtividade e consumo, como um investimento ou propriedade dos acionistas.
Não poucas vezes se descobre que o atributo ético ou socioambiental do produto não é verdadeiro, e o que era um instrumento de marketing novamente passa a ser o demarketing da ética e da responsabilidade socioambiental.
Ser ético envolve mais do que promover ações e resultados de caráter social.
Custa acreditar que profissionais não capacitados busquem na Ética e na Responsabilidade Socioambiental um caminho para sua subsistência, usando de má fé.
Maria Cecilia Coutinho de Arruda é Graduada em Economia (USP), com mestrado em Administração de Empresas (FGV-SP), doutorado em Administração (USP) e pós-doutorado em Ética e Propaganda na City University of New York, USA. Atualmente é Diretora Executiva da ALENE – Associação Latino- Americana de Ética, Negócios e Economia e Presidente da Hetica Treinamento Empresarial – heticabrasil@gmail.com