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ÉTICA E SUSTENTABILIDADE PARA OS JOVENS GESTORES

Maria Cecilia Coutinho de Arruda

04/05/2017

Já são muitos os anos vividos junto a jovens estudantes, preparando-os para iniciar suas vidas profissionais em empresas. Inicialmente, para eles as questões de ética significavam seriedade, justiça, responsabilidade dos executivos para com os clientes, acionistas e empregados da organização. Com o passar do tempo, viram que outros públicos se tornaram também importantes: fornecedores, agentes governamentais, consumidores, formadores de opinião, apenas para mencionar alguns. Hoje, todos os cidadãos do planeta, nascidos ou não, constituem alvo de suas preocupações.

Mudança de foco? Não, ampliação do foco. Jovens executivos hoje se detêm sobre uma gama mais variada e profunda de temas relativos aos seres humanos. A definição puramente técnica de estratégias, táticas, operações, não mais satisfaz aos gestores entrantes nas organizações. Uma visão social e ambiental se soma à tradicional perspectiva econômica. Ética e sustentabilidade se dão as mãos e começam a nortear suas decisões.

Um primeiro desafio dos jovens gestores é tornarem-se plenamente conscientes de suas responsabilidades para com toda a humanidade. Condições psicológicas e sociais podem tornar esse processo mais ou menos rápido, mas sempre eficaz. A adesão de um executivo sempre afeta sua empresa, em muitos níveis. Cada decisão se recobre de especial significado, pois aponta para o futuro, tanto quanto para o presente.

Uma vez ciente de sua responsabilidade ética, o jovem gestor pouco a pouco começa a identificar, perceber e zelar para que todos os stakeholders, ou os públicos de alguma forma envolvidos com a empresa, também foquem nos resultados, pensando nos consumidores atuais e futuros.

Sua atitude inovadora vai sendo apreciada e aceita, se sua fundamentação for inteligente e oportuna. Assegurar o crescimento, a eficiência e a estabilidade econômica da organização é tarefa da maior importância e de fácil compreensão por executivos de mais experiência, com pouca ou menor exposição a novos temas. Ganhar seu apoio não constitui tarefa demasiado difícil para jovens gestores, desde que haja resultados. Do ponto de vista social, já os desafios são maiores.

Vencer “tradições” e abrir consultas a fornecedores, clientes e consumidores, por exemplo, podem gerar resistências em algumas áreas da empresa. Ganhar confiança e contar com o apoio de instituições externas também representa inovação, em termos de governança.

Cabe aos jovens gestores buscar na profundidade e na importância das novas visões os argumentos para que a organização trilhe o caminho da responsabilidade social.

A preservação da biodiversidade e o reto uso dos recursos naturais, junto a questões como poluição do ar, dos rios, e desmatamento de florestas brasileiras, também cercam as decisões sobre insumos, processos e descarte dos produtos e serviços de uma empresa.

O jovem moderno, cada vez mais familiarizado com a natureza, seja por prática de esporte, seja por lazer e turismo, parece olhar para a vida com olhos mais amigáveis que antes. Isso o ajuda a interpretar as várias demandas diante duma tomada de decisão estratégica nas organizações.

Então, ponderar sobre as necessidades humanas, os bens e serviços disponíveis para atendê-las, hoje e sempre, num diálogo “entre gerações” dentro da empresa, levará o novo executivo ao sentimento de solidariedade, buscando caminhos para redução da pobreza, para geração de trabalho e renda, para encontrar medidas de controle sobre as mudanças climáticas. Esse é o desenvolvimento sustentável almejado pelo jovem gestor consciente da sua responsabilidade social.

Como é que se prepara este profissional? Como está sua relação com a ética e a sustentabilidade? Seguem algumas reflexões, a partir da experiência docente em nível de graduação. Certa polêmica parece estar rondando as atividades de cunho social e ambiental, no processo de sustentabilidade das empresas. Qual seria a razão real?

Não será apenas o risco de perda da lucratividade. Vai mais longe.

Diante desta visão, e pensando em termos globais, pergunta-se: os jovens executivos possuem ou necessitam mais valores éticos e de sustentabilidade para o exercício de suas funções? Com certeza uma contínua formação técnica pode contribuir. A familiarização com teorias e modelos os ajudará a definir padrões e regras, onde inexistem leis. Logo, a definição de metas e mecanismos de avaliação e controle dará ao jovem gestor uma segurança de que caminha no rumo certo, e certa sensibilidade e espírito crítico para mudá-lo, quando se for necessário.

A juventude facilita esta flexibilidade e é preciso tirar proveito dessa circunstância. Ao mesmo tempo, como quebra de paradigmas, está a inquietação de muitos jovens gestores com respeito à racionalidade no processo de compra. Junto com as famílias e o governo, as empresas e outras instituições visam a possibilitar o consumo, sem necessariamente transformar os consumidores em consumistas. Programas de marketing sustentável focam as campanhas de forma a contribuir e não a distrair os consumidores desta preocupação.

Muitos outros aspectos poderiam ser aqui levantados. Para esta reflexão, os leitores podem pensar neste momento em seus irmãos, filhos, sobrinhos, irmãos, netos, amigos que iniciam agora suas vidas de trabalho dentro de empresas. Com que se deparam? Que reação demonstram? Por que priorizam organizações que desenvolvem programas socioambientais? Que espaço encontram para implementar suas iniciativas de responsabilidade social? Como motivam seus chefes e os dirigentes das empresas a possuir um programa sério de sustentabilidade? O jovem executivo e sua relação com ética e sustentabilidade nas corporações são um tema encantador e inovador. Vale conhecer de perto.

 

Maria Cecilia Coutinho de Arruda é Graduada em Economia (USP), com mestrado em Administração de Empresas (FGV-SP), doutorado em Administração (USP) e pós-doutorado em Ética e Propaganda na City University of New York, USA. Atualmente é Profa. Adjunta – Departamento de Mercadologia – MCD da FGV-EAESP e Diretora Executiva da ALENE – Associação Latino- Americana de Ética, Negócios e Economia.