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Segurança Alimentar e Melhoria da Nutrição

Segurança Alimentar e Melhoria da Nutrição

Por Natalia Altoé

Quando falamos de segurança alimentar estamos falando sobre a garantia do direto de todas as pessoas ao acesso regular e contínuo a alimentos de qualidade nutricional, em quantidade suficiente e sempre respeitando a diversidade cultural de cada população.

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar considera ainda que as práticas alimentares promotoras da saúde devem ser também ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Nesse aspecto os  modelos  de  produção  e  de  consumo  dos alimentos são determinantes para a garantia da segurança alimentar. Um exemplo é quando se produz alimentos com uso de agrotóxicos, que afetam a saúde dos trabalhadores que os produzem, das pessoas que os consomem e também agridem o meio ambiente. Outro exemplo do que interfere negativamente na segurança alimentar são ações de publicidade que conduzem ao consumo de alimentos que pouco ofertam nutrientes que auxiliam na promoção da saúde (como vitaminas, minerais, fibras) ou que induzem ao distanciamento de hábitos tradicionais de alimentação.

Ainda, a segurança alimentar e nutricional demanda ações intersetoriais de garantia de acesso à terra urbana e rural, de acesso aos bens da natureza como sementes, água para consumo e produção de alimentos, serviços de saúde pública adequados, educação, ações de prevenção e controle da obesidade, do fortalecimento da agricultura familiar e da produção orgânica e agroecológica, de ações específicas para povos indígenas, populações negras, quilombolas e povos e comunidades tradicionais.

A segurança e a boa nutrição conversam em relação não apenas a qualidade do alimento e a quantidade necessária, mas também a periodicidade, influenciando no resultado final de uma boa nutrição.

Uma alimentação equilibrada deve conter alimentos de todos os grupos, os construtores (que são fonte principalmente de proteínas), energéticos (os que fornecem principalmente carboidratos e também gorduras) e os reguladores (ricos em vitaminas, minerais, fibras e água). As recomendações de ingestão dos nutrientes são sempre diárias, ou seja, os indivíduos devem ter acesso aos alimentos de todos os grupos que citei diariamente e o mais adequado seria possibilitar a variedade e a periodicidade do consumo dos alimentos para garantir o aporte de todos os nutrientes necessários para promoção da saúde.

A educação alimentar acaba  sendo  influenciada  ou  limitada  pelo  poder  do mercado em produzir em massa certos alimentos em detrimento de outros que acabam perdendo valor econômico e não conseguem acessar o mercado, podendo por isso até ser extintos e isso também produz um empobrecimento nutricional

As grandes produtoras agrícolas selecionam ou criam restritas espécies de um determinado alimento e as outras acabam sendo deixadas de lado. Isso acontece principalmente por fatores comerciais, onde são selecionadas ou criadas espécies que se reproduzam mais rápido e que sejam mais resistentes a pragas, por exemplo. Essa prática contribui para que encontremos mais facilmente e com preços mais acessíveis no mercado uma variedade  restrita  de  produtos, como  acontece por exemplo  com o milho  e  a  batata aqui em nosso país. Como dentro de uma mesma classe de alimentos a gente encontra diferentes composições nutricionais que variam de acordo com a espécie, o consumo restrito a algumas variedades em detrimento de outras não é o mais adequado do ponto de vista nutricional. Além disso, a agroindústria lança mão de técnicas de modificações genéticas de sementes e ainda não sabemos se o consumo das mesmas pode ter algum impacto na nossa saúde. Ainda, há perda no quesito histórico e cultural, pois muitos alimentos que foram consumidos no passado já não podem ser mais facilmente encontrados hoje.

Para cada idade de nossas vidas existem necessidades  nutricionais  específicas, como por exemplo, para os bebês, idosos, grávidas e lactantes

As necessidades nutricionais são bastante específicas e individuais e de uma forma mais abrangente são levados em consideração a idade, o sexo e se gestante ou não para determinar essas necessidades. Porém, é igualmente importante considerar o  estado nutricional, a carência de determinados nutrientes, a presença de doenças diretamente relacionadas com a nutrição, dentre outros fatores, sempre respeitando a questão cultural. Os grupos citados acima – bebês, idosos, grávidas e lactantes – assim como as crianças e os adolescentes, são grupos de maior risco nutricional e devem receber maior atenção dos programas de promoção de segurança alimentar.

Impactos de uma má nutrição nas crianças

Uma má nutrição pode afetar um bebê desde que ele está na barriga de sua mãe, um aporte adequado de nutrientes desde a gestação é essencial para o crescimento e desenvolvimento de todos os órgãos e sistemas do feto, assim como depois de nascer. Os impactos de uma má nutrição em uma criança podem ter consequências severas tanto no crescimento dessa criança, que pode ficar abaixo da estatura adequada e, dependendo do grau de desnutrição, podendo levar a caquexia (consequência de desnutrição severa, onde há perda exacerbada de massa muscular, podendo  levar  ao  óbito),  quanto  no desenvolvimento cognitivo que afeta a concentração e o aprendizado. Crianças desnutridas também ficam mais suscetíveis a adoecerem já que a desnutrição prejudica o sistema imunológico.

Podemos entender a questão das pessoas prepararem sua própria comida como uma forma de empoderamento pessoal, na medida em que ela compra, confere a qualidade do produto, decide o cardápio e prepara sua comida

Exatamente, todos os passos que envolvem o processo de preparação da comida são de extrema importância, começando pelo planejamento do que se vai comer que gera uma auto-avaliação do que se está comendo. O ato de ir ao mercado  que  leva  o  indivíduo  a conferir a variedade de produtos, comparar valores, conhecer novos produtos, poder fazer uma escolha consciente do que comprar, baseada em diversos fatores como valor/qualidade/aparência, poder solicitar os produtos que deseja e  que  não  encontrou, poder reclamar dos que vieram com má qualidade, todo processo é participativo e é bom para quem compra mas também traz benefícios coletivos. Preparar a comida retoma uma conexão que muitos perderam, sendo que algumas gerações nem sabem o que tem dentro daquele produto que compram pronto no mercado.

Natalia Altoé é Nutricionista com mestrado em Ciências pelo departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).