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Moda Sustentável

Moda Sustentável

Por Belén, Giulia e Renata     

Hoje o Brasil descarta, por ano, mais de 175 mil toneladas de resíduos têxteis. Só na região do Bom Retiro, são 12 toneladas por dia (isso equivale a 6 caminhões cheios de resíduo têxtil que acabam indo parar nos aterros sanitários da cidade).

O BUD nasceu da nossa surpresa ao andar e se deparar com o volume de lixo descartado nas ruas. O nome foi inspirado em um princípio do Satish Kumar da Schumacher College, que nos ensinou que a gente só tem que trazer para as nossas vidas o que é belo, útil e durável (ao mesmo tempo).

Com o BUD, nós imaginamos um mundo em que a moda direciona a sustentabilidade. Nós acreditamos que lixo é um erro de design e que desperdício é uma desconexão nossa com a natureza e com a responsabilidade que cada um de nós tem sobre o que produzimos, consumimos e descartamos.

Então para chamarmos atenção a esse tema, nós recolhemos 50kg de tecidos diretamente das calçadas do Bom Retiro, nos conectamos com a comunidade de Paraisópolis (costureira Francinete e o estilista Alex Santos, do Projeto PIM, Periferia Inventando Moda) e com eles nós criamos produtos que além de lindos são feitos com tecidos que seriam descartados, com 50% da renda revertida para a comunidade.

Acho que a gente fez tanto barulho que o BUD, junto com o Projeto PIM, foi parar no fashion week, com um desfile com modelos de Paraisópolis, o que deu ainda mais voz para a comunidade.

Bom, e afinal, o que queremos com esse projeto? Queremos continuar chamando a atenção para a questão do lixo, com coleções cápsula no Brasil e na Argentina. Queremos também dar total transparência ao nosso modelo de negócio, para que mais pessoas possam fazer o que temos feito. Nós acreditamos que o nosso projeto é capaz de gerar um enorme impacto social e ambiental positivo se replicado por outros profissionais do mundo da moda. E queremos resgatar trabalhos que estão parados na Prefeitura de São Paulo, como o Retalho Fashion, fomentando políticas públicas que estabeleçam incentivos aos que trabalham com resíduos têxteis, retalhos e materiais reciclados.

E por que agora? Porque a indústria têxtil é a segunda maior poluidora do mundo (depois do petróleo) e porque o consumo com o fast fashion tem aumentado a cada ano. Hoje é preciso um planeta e meio para suportar o nosso estilo de vida. E se tudo continuar assim, em 2030 precisaremos de 2 planetas.

A moda virou descartável e nós temos pouca consciência do impacto que isso gera desde a extração da matéria prima até a disposição final de resíduos. Os impactos passam pela qualidade do solo no cultivo, contaminação de recursos hídricos com o processo de beneficiamento e tingimento, consumo de água e energia e exploração de mão de obra. Quem de vocês sabia que para a fabricação de uma única peça de jeans são necessários 6.000 litros de água? Ou que 20% de todas as águas poluídas no mundo estão assim por conta da indústria têxtil?

Nós temos somente 5% de chance de alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris, que trouxe em 2015 a esperança no combate às mudanças climáticas. E para que as metas sejam atingidas, é preciso repensar o processo produtivo em todos os setores. E isso inclui uma mudança sistêmica necessária e urgente na indústria da moda.

Nós sabemos da complexidade da indústria e de toda a sua cadeia. Mas também sabemos que só nós – cidadãos e consumidores – podemos exigir que somente se coloque no mercado produtos que, ao final do seu ciclo produtivo, possam ser reformados, reutilizados, reciclados ou compostados.

Esperamos que vocês se inspirem, compartilhem essas iniciativas e se juntem a nós para criarmos essa rede de inovadores em busca de soluções coletivas de impacto. Se a gente vai sozinho, a gente vai mais rápido, mas se a gente vai junto, a gente vai muito mais longe. Então fica aqui o nosso convite para seguirmos juntos, irmos muito mais longe e continuarmos transformando a realidade dos resíduos têxteis no Bom Retiro, em São Paulo, no Brasil, onde quer que seja, mas por meio das nossas próprias ações. Muito obrigada.

B.U.D. – Beautiful, Useful and Durable

Mindful Fashion

@_B.U.D.

 

Renata Soares Piazzon, advogada, mestre em Direito Ambiental, professora da PUC-SP e formada pela Schumacher College e pelo Amani Institute. É cofundadora da plataforma Atitude Consciente e do Projeto B.U.D. Conselheira do Instituto Akatu e coordenadora do Departamento Ambiental do Lobo & de Rizzo Advogados.

Belen Cavanagh, formada em Relações Internacionais na Argentina, co-criou um grupo de microcrédito para as famílias de “La Teja”, foi professora no programa Enseña por Argentina e foi co-fundadora de FlanMixto, um projeto com o objetivo de revitalizar o artesanato das mulheres quíchua dentro de Santiago del Estero. Trabalhou na Ashoka Argentina, coordenando projetos inovadores de desenvolvimento social e no Ministério do Desenvolvimento Social para o fortalecimento do trabalho de cooperativas. É co-fundadora do Projeto B.U.D.

Giulia Maria Testoni, formada em design de moda e com mestrado em Fashion Brand Management pela Polimoda, trabalhou anos na área de moda e é co-fundadora do Projeto B.U.D. e da marca NUUN. Durante o último ano trabalhou na Futurebrand, com estratégias de marca, e hoje dedica-se à Mandalah.